Porquê escrever-te o amor rodeado de flores...
finais de tarde, gaivotas, mar, primavera?
Escrevo-te num chão sujo, num pinhal queimado, numa linha de comboio abandonada, numa casa em ruínas... na decrépita tasca da esquina fedendo
ao escabeche de esquálidos carapaus há muito fritos!
Escrevo… porque te sinto.
Galgando distâncias, sobre a faixa cor de luto, solto o inconsciente e deixo-o farejar pelos cantos sombrios de um espaço inexplicável.
Esqueço-me do tempo. Dos sons que me rodeiam. Da linha do horizonte que avança contra mim.
Esqueço-me das angústias que me asfixiam. Do destino incerto para onde vou...
galgando distâncias sobre uma faixa cor de luto tracejada a inocência.
Refugio-me na companhia de sons.
Altos, baixos, médios, graves, agudos....
vibrações, tão só.
Tons acústicos, de cordas que prendem.
Tons guturais, de gargantas que calam.
Na incerteza do teu querer...
retraio a vontade do meu desejo.
Outras vezes, muitas...
na vontade do teu desejo retraio a vontade do meu querer.