O Pai Natal, após recuperar das mazelas recentemente sofridas, achou por bem redimir-se da indigna causa que as originou!
A poucas horas da derradeira badalada do ano jurou a si mesmo fazer chegar ao destino… “a pequena caixa, decorada com um discreto laçarote, que por descuido terá caído do enorme saco encarnado”.
Fez sinal a um “Táxi”, acomodou-se, deu a morada e deixou-se conduzir.
O motorista, cansado de uma jornada de trabalho extenuante e imaginando-se já no aconchego do lar saboreando o “borbulhento” espumoso da praxe... não reagiu ao inoportuno semáforo que à sua frente passou a encarnado.
- F…-..!
Travou a fundo, derrapou, enfaixou-se num “terceiro”…
e acabaram todos na Esquadra da Polícia, onde, por mero acaso, o Pai Natal encontrou o destinatário da “caixinha”: o Agente de Plantão (sic)!
Na azáfama própria da Quadra Natalícia o Pai Natal contava as horas, os minutos e os segundos para, após a entrega da última prenda, respirar fundo, refastelar-se no cadeirão e acabar, finalmente, com o mais puro “Whisky” do pequeno cantil espalmado que tanto o ajudara a suportar a fria neve que a noite beijava.
Tudo correu como previsto… ou quase tudo!
Já na auto-estrada, ao volante do vistoso e potente trenó de 250 renas, reparou na pequena caixa, decorada com um discreto laçarote, que por descuido terá caído do enorme saco encarnado.
- Oh! Oh! Oh!
Travou a fundo, inverteu a marcha, entrou em contramão, guinou…
De visita a uma cidade do interior foi a “confraria” recebida condignamente pelo régulo local e prendada por opíparo repasto da praxe.
Como “digestivo”, uma visita guiada à Fonte Luminosa (!) mesmo defronte da casa das comidas e dormidas.
Pouco lhes interessou que a dita estivesse seca, que a ferrugem decorasse as tubagens, que as luzes não acendessem ou que o granito já se esboroasse pelas bordas que emolduravam o decrépito tanque!
O Guia cumpriu a sua obrigação e “pintou-a” como o final apoteótico do romano aqueduto “Acqua Vergine”, em Trevi!
A “confraria”, num quase delíquio iminente, em extâse…
Envolvido em nada... empenhou o seu tempo em coisa nenhuma e dedicou-se a ninguém.
Libertando o seu característico aroma “Kolnisch Wasser 4711”, deixou pela mansão o indício de que o encontro iria ser romântico…
e saiu para a rua, apressado, não dando ouvidos sequer ao chamamento preocupado e estupefacto da Governanta.
Estranhou o vento frio no rosto que lhe deixou os olhos banhados em lágrimas! As gélidas gotas de água que escorriam dos cabelos! A insuportável dor que sentia na palma dos seus pés! Os estranhos arrepios que avassaladoramente se apoderavam do seu corpo! Os olhares anormais que o perseguiam!
O encontro, romântico, para o qual na ânsia apressada se dirigia…