Há tanto tempo!
Mil sóis já nasceram... e puseram.
Mil luas já chegaram... e partiram.
Mil marés já encheram... e vazaram.
Tanto, o tempo...
que mil saudades de mim se apoderaram... e renasceram.
Na beirinha daquele profundo e medonho precipício...
ele esperava pela sua hora. Desejava que fosse rápida, instantânea.
Via-os chegar, via-os partir, no entanto mantinha-se firme na esperança ilusória de uma qualquer inversão do seu destino.
Mas ela chegou, de bata azul, munida de mil e uma armas químicas e luvas de látex, cirúrgicas.
Lançou um tóxico spray azulado, puxou o autoclismo...
e o “pintelho” partiu, na paz possível proporcionada pela “deep troaht” de uma higienizada sanita (sic).
Olhos, os meus, de onde lágrimas se soltam...
Enterrado em "trampa" até ao pescoço, interrogou-se sobre a utilidade das infindáveis noites em que à custa da cafeína queimou pestana atrás de pestana... até mais pestanas não haver para arder.
Reviu-se de "canudo" na mão, Engenheiro do Ambiente, partindo à conquista do penacho e do reconhecimento na infindável selva do laboral mercado da sobrevivência.
...
Apesar de tudo, resignado, trabalha na área da sua formação:
é Servente de Limpeza numa Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR).